Ajuda a refugiados mobiliza grupo de voluntários do Grande ABC
Obrigados a habitar novo País, com idioma e costumes diferentes, refugiados venezuelanos permanecem em Boa Vista, capital de Roraima, à mercê da solidariedade alheia. A situação de crise humanitária chamou a atenção do Ibes (Instituto Brasileiro de Expedições Sociais), que uniu profissionais de todo o Brasil – sendo cinco deles moradores do Grande ABC – para nova edição do projeto Canudos, criado em 2009. A ação consiste em oferecer cuidados médicos, odontológicos e de assistência social às famílias estrangeiras que vislumbram, em terras tupiniquins, a superação da fome.
A vontade de ajudar o próximo a partir dos conhecimentos técnicos adquiridos na academia motiva o biomédico e mestre em Psicologia da Saúde Victor Hugo Bigoli, 36 anos, a praticar trabalho voluntário há 16 anos. Veterano em ações sociais, ele foi o criador do Ibes e, consequentemente, do projeto Canudos. “Esse trabalho é lindo. E nos toma tempo. Nos dedicamos ao máximo. Estamos sempre à procura de parceiros, apoiadores, patrocinadores. O instituto vive disso”, destaca.
Grupo de 60 voluntários participou da viagem até Roraima durante o feriado de Páscoa. Foram quatro dias de trabalho. As ações de saúde contaram com profissionais da Medicina, Odontologia, Fisioterapia, Psicologia, Enfermagem, Biomedicina e Farmácia.
Diretor administrativo do Ibes, o andreense Flávio Correa, 33, formado em Biomedicina e Farmácia, revela ter ficado impactado com a situação dos refugiados venezuelanos em Roraima. “Eles estavam em condições de saúde precárias, desnutridos, com infecções. Se alimentavam apenas uma vez por dia com a ajuda de voluntários da igreja e da comunidade”. Chamou atenção ainda o fato de alguns dos estrangeiros ter formação superior e, ainda assim, precisar abandonar o país de origem em busca de oportunidades.
Correa supervisionou o grupo da expedição, formado por alguns amigos de infância, como é o caso de Pedro Vilar, 33, estudante de Medicina que pretende se especializar em Oftalmologia, assim como a irmã, Camila Vilar, 29.
Para a cirurgiã-dentista Marina Stanzani, 23, apesar do pouco tempo de convívio com os refugiados, a dificuldade e sofrimento vividos pelos estrangeiros são capazes de tocar profundamente. “Eu me apaixonei por uma criança venezuelana. A mãe até propôs que ela viesse para São Paulo comigo”, revela. Apesar da distância, a moradora de São Caetano faz questão de manter contato frequente com a família de refugiados, que deverá ser enviada para outro Estado brasileiro em breve. “Ela (matriarca da família) ainda não sabe exatamente qual é, porque eles vão para onde mandarem, não têm muita escolha.”
A jovem dentista já havia participado de trabalho voluntário no Pará, em 2015. Questionada sobre a motivação de explorar lugares diferentes em causas humanitárias, é direta. “Fazer trabalho voluntário é maravilhoso, me fez crescer muito como ser humano. A intenção é nunca parar.”
VAQUINHA
O instituto tem planos de realizar nova expedição a Roraima. Para isso, busca recursos para a compra de medicamentos, insumos, equipamentos e alimentação. “Estamos com o nosso estoque de medicações bem baixo, além de não contar com fomento para a compra de equipamentos que serão utilizados quase que exclusivamente à causa”, destaca Bigoli.
O próximo passo é formar equipe de 250 profissionais voluntários (entre acadêmicos e formados) de Roraima que realizarão semanalmente ações em centros de abrigo por toda Boa Vista e Pacaraima. Para pagar a primeira parcela de dois equipamentos odontológicos que adquiriram para atendimento aos venezuelanos, precisam exatamente de R$ 3.750. Vaquinha on-line foi criada a fim de tentar angariar os recursos. Para ajudar basta fazer uma doação por meio do link (www.vakinha.com.br/vaquinha/projeto-canudos-operacao-roraima). A próxima expedição está marcada para o dia 12.
SOBRE O PROJETO
O projeto Canudos é uma iniciativa social do Instituto Brasileiro de Expedições Sociais que visa a autossustentabilidade de comunidades vulneráveis pelo Brasil e pelo mundo, por meio de operações nacionais e conexões internacionais. Iniciou suas atividades em 2009 na cidade de Canudos, Interior da Bahia. Desde o início, o projeto visa tornar os vilarejos de Canudos Velho, Rio do Vigário e Rasinho (regiões rurais) em comunidades autossustentáveis. Para isso, desenvolve ações de saúde, educação, direitos humanos e Justiça, comunicação, cultura, geração de renda, tecnologia e meio ambiente.