A saudade do sertão no cinza de São Paulo
Mais uma vez volto de Canudos Velho e piso em São Paulo ainda atordoado. O cansaço físico e mental me fazem fechar e abrir os olhos lentamente. A visão das torres e o barulho dos motores incomodam, parece que cheguei ao desconhecido, algo antigo que remete a infância, sensação que anos se passaram desde a última vez que vi todo este caos. Respiro fundo e sinto o cheiro da fumaça. Alguém fala ao telefone e numa distração qualquer, um esbarrão, e o primeiro olhar mal encarado me deseja boas-vindas. Lar doce lar. Pelo menos as próximas horas serão de abraços apertados e sorrisos sinceros, mas e depois? Provavelmente alguns dias de adaptação, enquanto o mundo gira e eu tento acompanhar a vida a passos lentos. Voltar de Canudos é uma sensação única e repleta de sentimentos. Olhando o céu eu lanço o coração pelas nuvens de volta ao sertão baiano e deixo a saudade apertar. Sinto falta das estrelas, do silêncio da noite e do vento cortante. As mensagens no meu celular, que fiz questão de deixar off line durante a viagem, me fazem lembrar dos compromissos que deixei aqui na cidade cinza. Tenho uma vida inteira para tocar para frente e não consigo mover um dedo sequer. Mais uma vez, como todos os anos, amigos e familiares querem saber de tudo o que aconteceu, mas alguma coisa dentro de mim faz a voz arranhar e as palavras se embaralham na minha cabeça. Me esforço, faço um resumo, mostro algumas fotos e vídeos. Pareço um estranho dentro dos meus próprios círculos, seria assustador se fosse a primeira vez, mas eu já esperava por isso. É impossível sair ileso de um mergulho tão profundo. Acredito que a culpa de toda essa confusão é da imersão que vivemos durante o projeto. São tantas experiências, tantas dificuldades superadas, tantas outras não superadas e tantos novos sorrisos para guardar na memória. São novas longas e pesadas linhas escritas em nossas histórias. E tudo é tanto que parece não caber nos dias que passamos naquele lugar. Talvez por isso a gente precise de um tempo para se readaptar, porque acontece ainda dentro da gente aquilo que o tempo não deu conta de deixar por lá.