Alunos retomam atendimentos em Canudos Velho
Logo pela manhã já se percebia que o dia seria intenso. Logo às 8h da manhã a fila de pessoas de todas as idades se formava. Foram realizados 49 novos cadastros, além dos incontáveis retornos. Como os exames foram feitos após o primeiro atendimento, as pessoas voltam em busca de diagnóstico.
Paralelamente, a equipe de Engenharia Ambiental tem trabalhado duro. As alunas Thais Rocha e Janine dos Santos passaram o dia preparando filtros para serem instalados nas descidas das calhas das casas. Em Canudos é muito comum o uso de cisternas com o objetivo de acumular a água da chuva vinda, principalmente, dos telhados das casas. Antes, sem o filtro, caiam folhas, galhos, penas de pássaros, etc. Agora, com o filtro desenvolvido pelas alunas, a qualidade da água será superior à que encontramos hoje nas cisternas.
Outro membro da equipe de Engenharia, Felipe César Ferreira Figueiredo, preparou uma lâmpada de garrafa pet. Trata-se de uma garrafa a ser instalada no lugar de uma telha. Dentro dela há água e água sanitária, para que não gere bactérias. A luz solar bate na garrafa, dissipa na água e ilumina todo o ambiente. “A lâmpada reduz os gastos com contas de energia, ilumina mais que uma incandescente e só precisa ser trocada a cada dois anos por conta da água do reservatório”, disse Felipe. Felipe contou com a ajuda de um morador de Canudos, seu Luizinho, que cedeu o espaço para a realização da tarefa e ofereceu a sua própria casa para a instalação da primeira lâmpada de garrafa pet.
Outro trabalho desenvolvido pelos engenheiros tem parceria com a equipe de biomedicina. Em Canudos Velho são frequentes os casos de problemas intestinais. Após muitas queixas, as duas equipes decidiram realizar análises do solo e da água das casas do vilarejo. A equipe total, agora composta por 41 pessoas, está hospedada nas casas dos moradores. Para acelerar os trabalhos, cada um ficou responsável de coletar amostras de solo e de água.
A carne que a população consome vem do próprio quintal: cabras e galinhas. A análise do solo é necessária para avaliar as verminoses do local que esses animais vivem. Quanto à água, são feitas análises biológicas e físico-químicas. A biológica detecta parasitas, protozoários e viroses. A físico-química detecta presença de ferro, mercúrio, chumbo e ausência de flúor na água, além de analisar a concentração dessas propriedades.
O coordenador de Biomedicina e mestre em ciências pela USP, Ícaro Matioli Barbosa, explicou a mecânica do trabalho e que todas as áreas estão ligadas “a biomedicina detecta a influência desses itens na urina e no hemograma, a engenharia localiza nas coletas de materiais. Quando há a ausência de flúor na água, ele é encaminhado para a odontologia” diz o biomédico que também é especialista em análises clínicas pelo serviço laboratório clínico do Hospital da USP. A odontologista Beatriz Peretto completa “Temos que tratar o foco das doenças e a boca é a porta de entrada para infecções”.
As atividades da Biomedicina são muito abrangentes e só a partir dos resultados é possível compreender e determinar os motivos pelos quais a população necessita tanto de atendimentos.