Mainha postiça, saudade contida
Todos os participantes do projeto de extensão em Canudos são adotados por uma mãe baiana. Seus filhos passam a ser seus irmãos, os sobrinhos se transformam em seus primos, enfim, os estudantes passam a integrar à família canudense. A família, especialmente a mãe canudense, faz com que a saudade de casa seja amenizada e, praticamente extinta, ao longo dos quinze dias do projeto. É assim que sinto com Eliene, minha mãe em Canudos. A história dela se confunde com a das mulheres canudenses. Eliene tem 41 anos e uma força invejável. Dos três filhos, dois estão em São Paulo – um tem 20 anos e o outro 26. Ela sim sabe o que é saudade e como lidar com ela diariamente. Assim como os outros filhos, o terceiro, de 21 anos, também está para fazer as malas e partir para São Paulo em busca de uma formação profissional e emprego. Aqui, em Canudos, as oportunidades são escassas. Ao conversar com os moradores é comum encontrar algum parente que esteja em terras paulistas para construir uma nova vida. Com a minha mãe não é diferente. Além de ter dois filhos em São Paulo, o companheiro está em Angola. Santo, marido de Eliene, integra o grupo de homens canudenses que trabalham pela Odebrecht como mestres de obras na África. Segundo a minha mãe, “os brasileiros constroem o que foi destruído pela guerra no país, já que os angolanos não têm a noção de organização como os brasileiros.” Eliene está acostumada com chegadas e partidas. Há nove anos perdeu o primeiro marido em um acidente de moto. Quando alguém em Canudos Velho se vai, a cidade para. Foi assim com o marido de Eliene. Mas, reconstruir a vida com os três filhos foi a única saída para seguir em frente. Quem vê a minha mãe postiça mal sabe a saudade que ela carrega no peito. Todo esse sentimento cura qualquer tipo de tristeza que possa me abater nesses 2.000 km que me separam da minha família de São Paulo.